A sangria do freio é um procedimento fundamental para manter a eficiência do sistema de frenagem, especialmente após a substituição de componentes hidráulicos ou em veículos que apresentam pedal “borrachudo”.
Ao eliminar bolhas de ar do circuito, esse processo restaura a pressão do fluido e garante que o comando no pedal se transforme em frenagem imediata, precisa e segura.
Mecânicos experientes sabem que qualquer ar no sistema compromete o desempenho, mas muitos motoristas ou iniciantes na oficina não percebem os sinais até que um problema mais sério ocorra. Neste artigo, vamos mostrar como fazer a sangria do freio de maneira correta, passo a passo. Acompanhe conosco!
O que é a sangria do freio e por que fazer?
A sangria é um procedimento que consiste na retirada do ar que ficou retido no circuito hidráulico do sistema de frenagem.
Esse ar pode ter entrado durante uma troca de fluido, vazamento, substituição de pinças, cilindros ou mangueiras. Aí, é comum que bolhas apareçam.
Quando há bolhas de ar no sistema, o pedal do freio perde firmeza. Isso acontece porque, ao ser pressionado, parte da força é absorvida pela compressão do ar, e não transmitida diretamente ao fluido. O resultado é uma resposta atrasada ou freio ineficiente, o que coloca a segurança do motorista e seus passageiros em risco.
Confira alguns sintomas que indicam a necessidade de purgar o sistema, isto é, remover o ar que entrou nas linhas hidráulicas do circuito de freios:
- pedal afundando com facilidade, sem resistência;
- resposta lenta mesmo com o pedal pressionado fundo;
- necessidade de “bombar” o pedal para conseguir frear;
- troca recente de fluido ou reparo no sistema hidráulico.
Esses sinais não devem ser ignorados, principalmente se o motorista relate mais de um sintoma. Caso o fluido esteja em bom estado e não haja vazamentos visíveis, o próximo passo é realizar a sangria.
Passo a passo para realizar a sangria corretamente
O processo pode ser feito de forma manual, com ajuda de um auxiliar, ou com o uso de kits específicos que criam vácuo ou pressão. A seguir, explicamos como sangrar o freio do carro manualmente, que ainda é a prática mais comum nas oficinas.
Ferramentas e itens necessários
Antes de começar, separe os materiais:
- chave adequada para os sangradores (geralmente 7 ou 8 mm);
- mangueira transparente;
- recipiente limpo para coletar o fluido velho;
- fluido de freio novo e compatível com a especificação do veículo;
- luvas e óculos de proteção;
- panos de limpeza.
Organização e segurança
O carro deve estar nivelado e com o motor desligado. Apoie-o com cavaletes, nunca com o macaco apenas. Em outras palavras, trabalhar em segurança evita acidentes e dá mais estabilidade ao processo.
Evite que poeira ou umidade entre no reservatório. Por isso, é recomendado que você limpe a tampa e os arredores antes de abri-la.
Ordem correta das rodas
A sequência de sangria pode variar entre fabricantes, mas o mais comum é seguir da roda mais distante do cilindro mestre para a mais próxima. Um exemplo típico:
- roda traseira direita;
- roda traseira esquerda;
- roda dianteira direita;
- roda dianteira esquerda.
Uma dica: sempre verifique o manual do veículo para confirmar a ordem correta.
Etapas do procedimento
Siga esses passos, na ordem apresentada:
- Complete o nível fluido no reservatório até o nível máximo;
- Conecte a mangueira no sangrador da roda e mergulhe a outra ponta no recipiente com um pouco de fluido, para evitar retorno de ar;
- Peça ao auxiliar que pressione o pedal de freio várias vezes e segure pressionado;
- Com o pedal pressionado, abra o sangrador lentamente até sair o fluido com bolhas. Feche o sangrador antes que o pedal seja solto;
- Refaça o procedimento até que o fluido saia limpo e sem bolhas;
- Verifique e complete o nível do reservatório a cada roda — nunca deixe secar;
- Siga para a próxima roda na sequência e repita.
Finalização
Ao término, confira se todos os sangradores estão bem apertados, limpe possíveis respingos e calibre o pedal — bombeie algumas vezes para garantir que a pressão foi restabelecida.
Cuidados importantes durante o processo
Alguns erros comuns comprometem a eficácia da sangria e geram retrabalho. Vamos conhecê-los.
Não deixar o reservatório esvaziar
Esse é o erro mais frequente. Quando o reservatório seca, o ar entra novamente no sistema. Consequentemente, todo o trabalho precisará ser refeito desde a primeira roda.
Usar fluido errado
Utilizar fluido fora da especificação compromete a vedação das borrachas internas, altera o ponto de ebulição e pode causar corrosão. Sendo assim, sempre consulte o manual e verifique se está usando DOT 3, 4 ou 5.1, conforme indicado.
Reaperto dos sangradores
Não basta apenas fechar. É preciso reapertar os sangradores com firmeza ao final do procedimento, para assim, evitar vazamentos. Mas cuidado para não forçar e danificar a rosca ou o bico.
Contaminação do fluido
Jamais reutilize fluido velho. O fluido de freio é higroscópico e absorve umidade com o tempo, ou seja, prejudica o sistema. Sempre descarte corretamente o material usado.
Equipamentos de proteção
O fluido é tóxico e corrosivo. Portanto, use sempre luvas e óculos para evitar contato com pele ou olhos, e mantenha panos próximos para limpar eventuais respingos.
Benefícios de um sistema de freio bem purgado
Quando o sistema está livre de ar, o fluido atua com máxima eficiência, transmitindo toda a força aplicada no pedal para as pinças ou sapatas, sem perda de pressão.
Veja o que uma sangria bem feita proporciona:
- pedal de freio firme e resposta imediata;
- frenagens mais progressivas e controladas;
- menor desgaste dos componentes, já que não há necessidade de aplicar força extra;
- mais segurança em frenagens de emergência;
- estabilidade em condições críticas, como pistas molhadas ou descidas longas.
Em veículos com ABS, o sistema também depende de um fluido devidamente purgado para funcionar corretamente. Ar no circuito pode causar falhas de leitura nos sensores ou respostas incoerentes da central eletrônica.
Na maioria dos casos, veículos com ABS dependem da utilização do Scanner para finalizar a sangria.
Uma sangria do freio bem executada é garantia de segurança e confiança na direção. O procedimento pode parecer simples, mas exige atenção a detalhes técnicos e disciplina nas etapas. Mecânicos que dominam esse processo entregam um serviço mais completo e confiável ao cliente — e evitam riscos desnecessários.
Quer reforçar ainda mais seus conhecimentos práticos? Então, confira mais um conteúdo técnico: saiba quando substituir o disco de freio!